
O município responde por 8,1% do total de CO₂ emitido no Pará, o que o torna peça-chave nas estratégias para o equilíbrio climático e ambiental da região amazônica.
Pesquisas científicas são fundamentais para embasar políticas públicas e decisões voltadas ao enfrentamento das mudanças climáticas. É com base nisso que a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) lançou uma nota técnica revelando que, nos últimos 20 anos, o Pará reduziu em quase 30% suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). O município de São Félix do Xingu, situado no sudeste paraense, ocupa posição de destaque e alerta no estudo, sendo atualmente o maior emissor de CO₂ do estado.
Mesmo com a liderança no ranking estadual de emissões, São Félix do Xingu conseguiu reduzir em 14,9% suas emissões entre 2000 e 2023. O município responde por 8,1% do total de CO₂ emitido no Pará, o que o torna peça-chave nas estratégias para o equilíbrio climático e ambiental da região amazônica.
O peso da pecuária e a importância da transformação: A pesquisa da Fapespa, baseada no sistema SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), ligado ao Observatório do Clima, aponta a pecuária como a principal fonte de emissão no estado responsável por 91,9% das emissões totais em 2023. Em São Félix do Xingu, onde a atividade pecuária é intensiva e dominante, essa realidade se repete.

Entretanto, o estudo também destaca que a própria pecuária foi responsável pela maior parte da redução das emissões brutas, graças a avanços como mudanças no manejo, desaceleração do desmatamento e maior eficiência produtiva. Entre 2000 e 2023, as emissões oriundas da agropecuária caíram 31,6% no estado, evidenciando que é possível produzir com menor impacto ambiental.
Oportunidade para uma virada verde: A nota técnica da Fapespa reforça a importância de políticas públicas como o Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA) e o Plano Estadual de Bioeconomia do Pará (PlanBio), que vêm incentivando práticas sustentáveis e integradas. Esses programas são especialmente relevantes para municípios como São Félix do Xingu, que precisam equilibrar sua força econômica no agronegócio com a urgência de conter o avanço do desmatamento e reduzir as emissões.

Segundo Márcio Ponte, diretor da Fapespa, “o Pará tem um papel estratégico global no enfrentamento das mudanças climáticas, e São Félix do Xingu está no centro dessa equação, com desafios complexos, mas também com grandes oportunidades de transformação”.
Captura de CO₂ e o papel das florestas: Enquanto São Félix do Xingu lidera as emissões, municípios como Altamira se destacam na remoção de CO₂ da atmosfera, demonstrando que a preservação e recuperação florestal podem inverter a lógica do carbono. No Pará, a capacidade de captura aumentou 136% entre 2000 e 2023, com a floresta primária sendo responsável por 65,9% dessa absorção.
A vegetação nativa foi o principal vetor de crescimento na captura de CO₂, consolidando-se como o maior sumidouro de carbono do estado. A floresta alagável, presente em regiões como as margens do rio Xingu, também teve aumento de mais de 100% na capacidade de remoção, reforçando a importância de proteger áreas úmidas e várzeas.
Caminho para o futuro: Para o presidente da Fapespa, Marcel Botelho, os dados reforçam a necessidade de continuidade e ampliação das políticas ambientais. “A redução das emissões é resultado direto de ações como o PEAA e o PlanBio. Mas os números mostram que ainda há muito a fazer, especialmente em municípios como São Félix do Xingu, que precisam estar no centro das estratégias de mitigação”, afirma. O desafio é claro: transformar São Félix do Xingu de maior emissor em referência de sustentabilidade na Amazônia. Com apoio técnico, investimentos em bioeconomia e envolvimento das comunidades locais, esse cenário pode se tornar realidade e ser exemplo para todo o Brasil. (A Notícia Portal/ Manuela Oliveira/ Fotos: Bruno Cecim/ Fapespa e Agência Pará)