Ao menos 1.534 membros dos Tribunais Regionais Federais (TRFs) receberam remuneração acima do teto constitucional entre janeiro e junho de 2023. O levantamento é da Transparência Brasil.
Dentre os servidores em questão, que somam ativos e inativos, 44% receberam “supersalários” em mais de um mês no período.
O TRF-4, sediado em Porto Alegre, foi o órgão em que se identificou a maior quantidade de casos: foram 760, somando membros das 1ª e 2ª instâncias.
Um desembargador recebeu, por exemplo, R$ 426,6 mil em janeiro. O valor equivale a dez vezes mais do que o teto constitucional, atualmente em R$ 41.650,92.
Supersalários como esse são pagos porque o mecanismo de abate-teto, que aplica desconto a valores que ultrapassarem o limite, incide somente sobre os pagamentos classificados como remuneratórios, como adicionais por tempo de serviço e ajudas de custo para capacitação profissional.
O principal benefício concedido pelos TRFs nos primeiros seis meses de 2023 foi a gratificação por exercício cumulativo, dada conforme o membro adquire atribuições em diferentes comarcas, varas, jurisdições ou juizados. Foram pagos R$ 76,3 milhões nessa verba no período.
Auxílios e outros benefícios são categorizados como verbas indenizatórias dos membros pelas próprias resoluções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e dos Tribunais de Justiça.
Em teoria, essas verbas cobrem gastos que têm relação com o cargo. Mas a realidade é outra: ao serem classificadas dessa maneira, as verbas viram remunerações “extras” que escapam do teto e são as responsáveis por turbinar os contracheques em milhares de reais.
O terceiro principal benefício concedido pelos TRFs nos primeiros seis meses de 2023 foi a indenização de férias, um pagamento ao membro por férias vencidas e não gozadas e que não entra no cálculo do abate-teto. Foram pagos R$ 11,9 milhões nessa verba aos membros dos tribunais regionais federais no período.
Em nota, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) informou que os pagamentos feitos no âmbito da Justiça Federal passam pela avaliação do órgão central de controle administrativo e financeiro, o Conselho da Justiça Federal.
As informações usadas no levantamento foram extraídas do Painel de Remunerações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), organizados e disponibilizados na plataforma do DadosJusBr, projeto da Transparência Brasil em parceria com o Instituto Federal de Alagoas (IFAL) e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e financiado pelo Instituto Betty e Jacob Lafer. (A Notícia Portal/ CNN Brasil)