Metade dos hospitais de campanha montados por governos estaduais durante a pandemia da Covid-19 no Brasil foi desativada. Dos 56 que chegaram a funcionar, 28 permanecem ativos, o que corresponde a 50%, segundo levantamento do GLOBO com base em resumo das respostas enviadas pelos estados a questionamentos feitos pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
De acordo com o resumo dos ofícios feito pela PGR, entre 66 hospitais de campanha que foram planejados, alguns até com estrutura construída, sete não chegaram a entrar em funcionamento — o equivalente a 10% do total previsto. A PGR, que havia feito os pedidos de informação em março, renovou na última sexta-feira as cobranças por mais detalhes.
Os pedidos foram expedidos pela subprocuradora da República Lindôra Araújo, aliada do procurador-geral Augusto Aras. Ela considerou as primeiras explicações incompletas e assinalou, no novo requerimento, que os governadores devem esclarecer porque “entenderam que ocorreu o fim da pandemia de Covid-19 entre setembro e outubro de 2020 com a consequente desativação dos referidos hospitais bem como o prejuízo causado ao erário, não só em relação às vidas com a falta atual de leitos como o decorrente da verba mal utilizada”.
Araújo ressaltou que as respostas precisam ser assinadas pelos próprios governadores. A atitude se alinha com o discurso do presidente Jair Bolsonaro, que culpa governadores pelo agravamento da crise e insinua constantemente mau uso dos recursos públicos, no momento da instalação da CPI da Covid no Senado, que tende a acirrar os ânimos entre governistas e oposicionistas.
O levantamento do GLOBO, com base nos resumos apresentados pela PGR das respostas dos estados, não considera oito hospitais de campanha de gestão municipal que foram citados nos ofícios mas sobre os quais não há dados detalhados. Também exclui nove estruturas acopladas a hospitais que já estavam em pleno funcionamento.
Os motivos apresentados pelos estados para o fechamento das unidades de campanha que chegaram a ser abertas durante a pandemia foi a diminuição de casos e mortes, no segundo semestre do ano passado. A dificuldade de arcar com os gastos também foi apontado pelos gestores.
Em boa parte dos estados, os hospitais funcionaram entre três e seis meses, fechando no segundo semestre de 2020. Alguns hospitais reabriram as portas neste ano, com o recrudescimento da doença.
Governadores reagiram à PGR
Governadores ficaram irritados com os questionamentos. O chefe do Executivo do Piauí, Wellington Dias (PT), presidente do Fórum de Governadores do Nordeste, afirmou ontem que a desativação dos hospitais de campanha ocorreu no momento em que não tinha pacientes para usá-los.
— Se não tinha pacientes, qual era o sentido de ficar três, quatro, cinco, seis meses pagando por cada leito de hospital de campanha se já não tinha necessidade? — disse o governador em vídeo divulgado por sua assessoria de imprensa, complementando:
— Infelizmente lá na frente mesmo com essa rede ampliada que fizemos, com a suspensão de cirurgias eletivas, tivemos uma situação em que de novo colapsou a rede em todo o Brasil. Por quê? Por falta de cama? Por falta de equipamentos? Não, por falta de profissionais. É esse o problema ainda hoje.
Em nota, o governador também afirmou que boa parte do dinheiro aplicado nos hospitais de campanha veio dos cofres estaduais e que foram prestadas contas com toda a transparência aos órgãos de controle.
Fonte: O Globo